20 março 2006

Falcão - Meninos do tráfico.

As armas são de brinquedo. A maconha é de eucalipto. O pó, de algum bagulho parecido com talco. A brincadeira das crianças das favelas é inspiradas no mundo do tráfico. "Pó de dez, pó de dez", eles apregoam na boca de fumo de mentira. Na encenação tem a turma do arrego, que recebe o suborno para não denunciar nem prender o bando de traficantes fictícios. Logo depois, eles capturam um X-9, que alcagüetou os amigos para a quadrilha rival. O vacilão está pronto para ser executado, quando a turma de garotos ouve a rajada de tiros de verdade. Ali do lado do cenário da brincadeira a execução era real.
Com cenas como essa, exibidas neste domingo (19), no Fantástico, o documentário "Falcão – Meninos do Tráfico" manteve em estado de choque, por mais de uma hora, muitos milhões de lares brasileiros. Foi uma descarga de realidade sem precedentes na televisão brasileira, talvez mundial. A vida dos garotos que protegem as favelas dominadas pelo tráfico é desumana. "Falcão parece um passarinho que não dorme à noite", diz o garoto com a imagem do rosto desfigurada para evitar a identificação. Arma pesada na mão ele aparenta ter 14 ou 15 anos.
O documentário feito por MV Bill e seu produtor, Celso Athayde, choca pela realidade crua. Mas choca mais pela constatação de que esse câncer da sociedade brasileira não terá fim. A mãe chora a morte do filho, que morreu quase menino, mas deixou outra criança no mundo. Quem sabe para substituir outro Falcão daqui alguns anos. A outra mãe conta aflita como o filho que ainda não completou 3 anos de idade já conhece a realidade do tráfico: "Ele sabe o que é fuzil, o que é maconha, diz que é pó de cinco, pó de dez".

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